Na prática, a palavra ‘MÃE’ pode exercer tranquilamente a função de muitos verbos: amar, alimentar, ensinar, doar, entender; mas durante a pandemia de covid-19, palavras substitutas para a maternidade, com certeza, poderiam ser desafiar e vencer.
Coragem. Força. Fé. Resiliência. Sonho. Propósito de vida. Amor… Mães que não se conhecem e têm tanto em comum, começando pela letra inicial do nome . “D” de Deusanira Alves, agente de limpeza, e de Denise dos Santos, enfermeira. “D” de dedicação ao trabalho que realizam no município de Timon, uma na Superintendência de Limpeza Urbana e a outra na Secretaria de Saúde.
Mulheres fortes, que lutam diariamente para exercer o ofício da profissão que escolheram e levar o pão de cada dia para a mesa dos filhos.
Na pandemia da covid-19, a rotina de trabalho dessas duas mães foi tão desafiadora quanto essencial, para a cura e a prevenção da doença; seja no trato com os pacientes ou na limpeza das ruas.
A Denise dos Santos é enfermeira no Hospital do Parque Alvorada. O sorriso singelo e a fala calma escondem a fortaleza que ela é. Mãe da Maria Valentina (3 anos), retomou ao trabalho em 2020, no auge da pandemia, e teve que superar, literalmente, muitas barreiras impostas pelo novo coronavírus.
“Foi muito difícil ser mãe durante a pandemia. Eu ainda amamentava e, quando chegava, tinha todo um protocolo de higiene a ser seguido para não levar a doença para dentro de casa. Foi um desafio muito grande. Mas a gente tinha que se doar, o momento pedia isso. E ver tudo que vi e vivi no hospital, durante a pandemia, são coisas muito fortes. Lembrar de cada paciente que se recuperou e agradeceu a gente pelo cuidado. É muito bom saber que você fez a diferença na vida de alguém.” Conta a enfermeira.
Hoje, além de ser mãe, esposa, dona de casa e enfermeira, Denise cuida da mãe, que está com câncer.
“Minha mãe me passa uma fé muito grande e não esmorece. E, no momento que fui chamada para trabalhar, ela me disse para eu ir, que ela cuidaria da minha filha. Ela me disse pra eu não perder a chance de exercer minha profissão e cuidar dos outros naquele momento. Minha mãe me deu muita força.” Lembra.
E se é para falar de dedicação, dona Deusanira Alves é outro exemplo de quem verdadeiramente sabe cuidar.
Ela trabalha como agente de limpeza nas ruas de Timon há 9 anos.
Foi assim que terminou de criar os filhos Valéria e Wellington. Conta que aprendeu a amar a função.
“Quando a mulher trabalha, ela é empoderada! Foi daqui que tirei o sustento dos meus filhos. E deixar esta cidade limpa é algo especial. Passar pelas ruas e estarem assim, limpinhas, é muito bom. É importante para a saúde das pessoas. E foi daqui, também, com este trabalho da Prefeitura, que consegui pagar meu curso.”
O curso a que Deusanira se refere é o Bacharelado em Serviço Social, que ela faz numa faculdade particular na vizinha Teresina (PI).
“O Serviço Social é o meu grande sonho, porque é um curso que a gente luta pelos direitos das pessoas – direitos que muitas delas nem sabem que têm.”
É com esta firmeza, acompanhada de um sorriso fácil, que dona Deusanira se define.
“Eu sou uma vitoriosa. Eu sou muito especial. Eu me sinto maravilhada com tudo que consegui fazer. Enfrentei e enfrento muita coisa para alcançar meu sonho. Não foi nada fácil: criar filho, trabalhar, estudar… Eu não sabia nem mexer em computador e nem tinha computador. Então, ia mais cedo pra faculdade para aprender. Aprendi na raça. Anotava tudo que os colegas diziam e depois ia lá e tentava fazer. Hoje já sei fazer meus trabalhos.” Diz.
Abdicar é outra palavra que sai fácil numa conversa com a futura assistente social.
“Abdiquei e abdico de muita coisa na minha vida. Mas tudo vale à pena, porque vivo o meu sonho e vou mais longe por amor às pessoas, porque quero ajudar pessoas. Meu trabalho de final de curso é uma intervenção para mulheres em situação de violência doméstica e vou fazer especialização na área de saúde .O exemplo que sempre dou aos meus filhos e às mães é sonhar. Sonhem! Lutem pelos seus sonhos, para realizar aquilo que querem.” Ressalta a agente de limpeza e futura assistente social .
O sentimento de gratidão é outro ponto em comum na trajetória de dedicação dessas duas mães ao serviço público na Prefeitura de Timon.
“Eu sou muito grata pelo meu emprego”. Ela diz que se preocupa sempre em repassar à filha a importância de se dedicar ao próximo: “Sempre digo para ela que precisamos cuidar dos outros, mostro que precisamos dar amor e carinho. E sei que ela entende tudo, porque ela é especial.”
E para quem acha que é impossível realizar tantos papéis, a Denise tem uma receita:
“As mães precisam acreditar nelas mesmas. A gente consegue ser mãe, filha, esposa e profissional quando temos força e boa vontade. E o outro segredo é amar e não esperar o dia de amanhã para dizer que ama, porque essa pandemia mostrou ainda mais que não sabemos o dia de amanhã.”
A maternidade traz consigo várias contradições: coragem e medo, bravura e calmaria, acertos e erros… No entanto, há algo que faz uma mãe enfrentar tudo por seus filhos e não tem sentimento contrário, somente uma matemática que multiplica: o amor. É ele quem faz as mães viverem por algo maior do que elas mesmas, os filhos. E é isso que a Deusanira e a Denise levam consigo para prover os filhos e se doar ao trabalho.